segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Pelezinho - Folha de S. Paulo - 1976

Pelezinho em 1979 na Gazeta de Vila Prudente com o título de "Pelé".

Em 1976 era apresentada ao pública a tira oficial de Pelezinho. Diferentemente das experiências anteriores, esta era baseada nas características do Rei do Futebol, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé (1940-2022)

Criada por Maurício de Sousa com a anuência do jogador, a série foi publicada nos mais diversos jornais, como a Folha de S. Paulo e a Gazeta de Vila Prudente.

Em seu livro O Mundo dos Quadrinhos de 1977, Ionaldo Cavalcanti escreve: "Pelé - Série humorística lançada em 1976 em tiras diárias na Folha de São Paulo. Criada nos estúdios de Maurício de Sousa, esta série, cujo tema central é o futebol, pretende aproveitar a grande popularidade do "Rei", contando suas travessuras futebolísticas durante sua infância".

Abaixo segue a matéria publicada pela Folha quando do lançamento da tira:

Folha de São Paulo
Terça-feira, 5 de outubro de 1976

"Pelezinho", o novo personagem de Maurício de Sousa, mostra as aventuras do "menino-Pelé" na sua infância, construindo jogos, os amigos e a vida do futebolista.

Pelezinho e sua turma, uma história bem brasileira.

Maria José Arrojo

As histórias em quadrinhos sempre procuram retratar (principalmente as dirigidas ao público infantil) perso­nagens que não existem na realidade. É o caso das aventuras vividas por Pato Donald e sua família (Walt Dis­ney). As primeiras tentativas em atribuir a "personagens-gente" his­tórias que pudessem mostrar brin­cadeiras vividas pelas crianças sur­giram com os "Peanuts" - Charlie Brown e sua turma.

O Brasil há até pouco tempo impor­tava as peripécias desses personagens infantis, tentando atribuir-lhes algu­mas características brasileiras. Con­tudo, foi a partir de "Cebolinha", "Mônica" e "Cascão" que o público in­fantil brasileiro pode ver historinhas tipicamente brasileiras, enquadradas no contexto dos jogos e folguedos brasileiros.

Surgem agora, as tiras que vão fazer tanto o público infantil como o adulto vibrarem. Trata-se de "Pelezinho", como será chamado o personagem, transportada para história em qua­drinhos que Maurício de Sousa lança hoje em caráter internacional, e que devem mostrar não o "Pelé-Rei", mas o menino Pelé, criança característica brasileira pelas suas brincadeiras de rua.

A IDEIA 

Até se chegar ao lançamento, muitas transações e reuniões aconteceram. A primeira vez que Maurício de Sousa pensou em lançar Pelé em histórias em quadrinhos, mostrava o jogador ilus­trando fatos esportivos. Nessa época não havia só o problema de se encon­trar a fórmula ideal para aproveitar a figura Pelé e seus famosos momentos no futebol em histórias em quadrinhos, como também os problemas relacio­nados a contratos. Por isso, "Pelezi­nho" esperou um pouco mais para nas­cer. 

As ideias continuaram no plano abs­trato até o encontro de Pelé com Maurício de Sousa, num avião quando voltavam de Roma para São Paulo: Maurício voltava de um congresso in­ternacional sobre quadrinhos, onde há havia exposto suas ideias e Pelé, então jogador do Santos, voltava de mais uma de suas excursões. 

"De inicio, Pelé relutou em aceitar a ideia, ver sua imagem ligada a um personagem com feições estritamente infantis", explica o criador de "Cebolinha", acostumado a ver-se ligado a há caricaturas ou, ainda, como veículo de difusão do futebol brasileiro.

A defesa de Mauricio: o persona­gem seria dirigido às crianças e não aos adultos. "Leve para sua criançada, se disserem "Ah! Que bonitinho" pode acreditar que o pelezinho foi aprovado", foi a argumentação de Maurício.
Com isso, o primeiro obstáculo já havia sido vencido. Precisava-se elaborar agora a forma final do desenho. Nisso, até Rose (esposa de Pelé) opinou: preferia um que se assemelhasse ao filho do casal.

WARNER X UPI

Pelé vinculado a LCA, agência da Warner que cuida da elaboração de quadrinhos; Maurício à UPI, encarregada da distribuição de "Cebolinha" e "Mônica" para os países da Europa constituia então o problema de mais difícil solução. 

Por incrível que possa parecer, a LCA resolveu liberar Pelé, fundamentalmente por dois motivos: primeiro, porque nos Estados Unidos, atualmente, não há muito prestigio em torno de  histórias em quadrinhos e em segundo: a Warner tem interesses em difundir a imagem do Pelé. E, nessa transação de contratos a United conseguiu a exclusividade das tiras de "Pelezinho".

"PELE"

As tiras que serão distribuídas diariamente em jornais levarão o nome de "Pelé", na forma da assi­natura que é caracteristica do jogador. Cerca de 50 jornais brasileiros terão o "Pelezinho" em suas páginas, de preferência dentro dos cadernos de Esporte de cada jornal; uma vez que o interesse será maior. 

A distribuição não se limita porém no campo nacional: de 30 a 40 paises terão as versões das his­tórias, como já é feito com "Horácio" no Japão e "Cebolinha" na Alemanha.

Com ajuda do próprio Pelé que envia regularmente passagens de sua infàn­cia, Mauricio de Souza pôde construir toda uma "família" para os quadri­nhos. "Sem a assessoria de Pelé, não conseguiria elaborar nem o conteúdo das tiras como hoje é, nem a descrição perfeita de detalhes de seus amigos", assegura Maurício. 

Pelé chegou a elaborar uma lista de brincadeiras de infância para melhor construir as situações: jogos de fute­bol; "canudo envenenado", jogo de pião, "estilingue", cabra-cega e outras típicas, que já fazem parte do folclore brasileiro. 

Pelé passou sua infância em Bauru, no interior paulista, e é desse cenário que Pelé escreve para Maurício: "As ruas de Bauru não tinham calçamento. Então um dia, um garoto falou que o pai dele tinha escutado na Prefeitura que iam calçar as ruas de Bauru. A primeira coisa a ser calçada, seriam as calçadas. Imediatamente a turma Pelé começou a pensar o que iria fazer com a nova rua. Então veio a ideia de fazermos os carrinhos de rolimã". E por aí vai a brincadeira que veio relacionada como "Carrinho de Rolimã", onde Pelé descreve até como conseguiram as peças e como se faz es­se brinquedo, enviando um esboço com desenhos, de como construir o carrinho. 

Fazendo parte dessa relação estão as festas de "São João": "Em quase todos os bairros soltavam balão. Nossa tur­minha com o "estilingue" furava o balão e aí ele não subia. Um dia le­vamos um castigo, porque estávamos escondidos atrás da árvore e lá tinha uma casa enorme com maribondos. Eles nos morderam e no dia seguin­te todos estávamos com o olho inchado, boca inchada. Com respeito a São João não é preciso falar, você sabe como são essas festas". (Esses trechos são ex­traídos de uma relação em que o próprio Pelé endereçou a Mauricio"). 

Por ser de caráter internacional o lançamento, Maurício considera que será de grande valia para a propa­gação da cultura e do folclore brasileiros para o mundo: "Uma das maiores preocupações de Pelé é a imagem que a cultura pode ter lá fora", afirma Maurício" - e ele fica muito chateado quando dizem certas coisas a seu res­peito, principalmente quando assinou contrato com o "Cosmos" de Nova Ior­que. 

OS PERSONAGENS 


Frangão; Teófilo, Cana Brava; Bon­ga; Rex, o cavador e Samira serão os primeiros da "turminha de Pelé" a en­trarem em ação. Para isso, foram feitas algumas subtrações dos per­sonagens inicialmente indicados por Pelé: "Como você pediu, aqui vão al­guns apelidos para serem selecionados para a estória Pelé", é o que escreve o jogador a Maurício de Sousa quando da elaboração dos personagens. 

A característica de cada tipo foi feita não somente pelo desenhista, mas pela ação conjunta de sua equipe for­mada por nove pessoas e mais o jo­gador. Essas caracteristicas podem ser atribuídas a qualquer menino do in­terior pela sua universalidade, que é também um dos pontos que Maurício pretende atingir para as histórias inter­nacionais. 

Com todos esses personagens, Maurício de Sousa pretende lançar até o final deste ano uma série de desenhos animados, não funcionando somente com publicidade, mas estórias curtas intercalando alguns programas para a televisão.

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