sexta-feira, 29 de setembro de 2017

O caçador de rebanhos - A Nação - 1963


O caçador de rebanhos. Série histórica passada no século XVIII e desenhada por Luiz Saindenberg. Foi publicada no jornal A Nação em 1963. Distribuída pela Barbossa Lessa Produções foi republicada posteriormente, com os desenhos refeitos, com o nome de O Bandeirante no jornal Última Hora.


Sobre Luiz Saidenberg: "Brasil (1939) - Nascido em Piracicaba (São Paulo), com 18 anos já na capital, Saidenberg empregou-se numa pequena agência de publicidade como ilustrador. Logo estava na Editora Outubro, onde conheceu Gedeone, Flávio Colin, Álvaro de Moya e outros nomes já consagrados das HQs nacionais. Em 1962 a convite de José Geraldo, passou a fazer parte da CETPA, onde desenhou História do cooperativismo. Como o CETPA durou menos de um ano, Saindenberg voltou para São Paulo e para a publicidade. Ainda desenhou por algum tempo as tiras de A bandeira*.

Só voltou aos quadrinhos no tempo da Grafipar, colaborando espaçadamente também com a Vecchi (Spektro) e a Press (Almanaque Sobrenatural). Em 2003, pela Opera Graphica, saiu o álbum Na trilha de Masamune, uma história de samurai no século XVI. O personagem ganhou continuidade no álbum No rastro de Masamune (2005) pela editora Marca de Fantasia de Henrique Magalhães".

*Como sabemos a tira chama-se O Bandeirante.

Enciclopédia dos Quadrinhos – Goida / André Kleinert – L & PM Editores - 2001

A Nação era um tabloide paulistano das empresas O Esporte e A Hora que circulou entre 1963 e 1964, tendo como diretor-presidente J. B. Viana de Morais, como redator-chefe Nabor Caires de Brito e como editor de arte Luís Sanches.


Sobre Barbosa Lessa: "Sempre foi um sonho de quadrinistas brasileiros ver seu trabalho distribuído nos moldes das grandes agências distribuidoras americanas, os syndicates, como a King Features, a United Features ou o Chicago Tribune. 

No início dos anos 1960, coincidentemente, surgiram no Brasil duas tentativas de se fazer isso, a Maurício de Sousa Produções, que além do trabalho do próprio Maurício distribuía também O Gaúcho, de Júlio Shimamoto e Vizunga, de Flávio Colin. A Barbosa Lessa Produções Artísticas, distribuindo Gatinha Paulista, de José Delbó, Capitão Tarumã, de Manoel Victor Filho, Jacaré Mendonça e Amores Históricos de Rodolfo Zalla e ainda O Bandeirante de Luiz Saidenberg, sua última tentativa de permanecer nos quadrinhos.

Luiz Carlos Barbosa Lessa foi um importante produtor cultural muito ligado às tradições gaúchas. Folclorista, letrista, poeta, escritor, produtor e apresentador de TV, publicitário e relações públicas, foi também Secretário de Cultura de Porto Alegre e tem diversos livros publicados que versam sobre assuntos variados, desde a história do chimarrão a casos de marketing.

Ele escreveu todas as histórias de sua distribuidora, que durou de 1963 a 1964, sendo publicadas em jornais como Última Hora e O Diário Popular.

“Ah, o Bandeirante? Você sabe que eu nem me lembrava mais dele? Tenho umas 3 tiras, que me foram dadas pelo Zalla. Também não fiz muito mais que isso, já trabalhava em propaganda.

Foram feitas para o Barbosa Lessa, em 63. Não eram muito bem pagas, e eu tinha pouco tempo. Não sei dizer muito mais sobre isso, o Barbosa pretendia montar uma distribuidora como o Mauricio, que também estava se iniciando nesse gênero. Lembro que acabou de repente e que o Barbosa Lessa tinha um programa de TV com o Trio Farroupilha...”.

Luiz Saindenberg - Revista Memo número 3, setembro de 2013.

A técnica do desenho Jayme Cortez - Editora Bentivegna - meados dos anos 1960

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Dorfe, a musa androide - Playboy - 1991


24 anos após a publicação de Virgínia Zipf a dupla Pierre Rousselet e Roberto Duailib volta à carga com os quadrinhos de Dorfe, a musa androide.

A série era baseada na personagem Dorfe, que a modelo Dóris Giesse interpretava no programa Casseta e Planeta Urgente!, da Rede Globo, uma figura andrógina, de cabelos curtos e voz grave.

Segundo os autores, "aquém, muito aquém daquela galáxia que reluz no infinito, nasceu Dorfe, a anti-virgem dos lábios de bechamel e de cabelos mais loiros que os do mico dourado. É um rapaz? Uma moça? Não. É apenas um ser de outra dimensão, um momento da eletrônica. Dorfe mora dentro de cada computador, está em todas as partes e épocas. E usa sua memória (de quadrilhões de megabytes) para recriar os prazeres mais simples...".

Apesar de viver no ambiente virtual, Dorfe tratava de problemas bem concretos do seu tempo, como a reserva de mercado para os produtos tecnológicos, o contrabando de mercadorias do Paraguai e até da questão do sistema de governo: presidencialismo, parlamentarismo ou monarquia, que estava sendo discutida naquele momento.

Foi publicada em capítulos na revista Playboy, da editora Abril, em 1991.

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Virgínia Zipf - Fairplay - 1967



"VIRGÍNlA ZIPF - Uma ótima experiência feita pela revista Fairplay, da Efecê editora, em 1967.

Com argumentos de Roberto Duailibi e ilustrações de Pierre Rousselet, esta série sem conseguir fugir às influências de Barbarella, Jodelle e Phoebe Zeit-Geist, conforme depoimento do próprio autor, narra de maneira satírica a ação de uma agente secreta juntamente com sua amiga Juno e o robô Tossê, no planeta Phyn

A destacar o grafismo de boa qualidade de Rousselet".

O Mundo dos Quadrinhos - Ionaldo Cavalcanti - editora Símbolo - 1977

Anúncio produzido por Rousselet em sua agência, a HotShop.


Em entrevista, Roberto Duailib declarou: "A Virgínia Zipf era uma personagem interplanetária, absolutamente livre, bonita pra burro... cujo desenhista era um rapaz chamado Pierre Rousselet, que tinha um traço maravilhoso e trabalhava na Metro 3 exatamente como ilustrador. Eu escrevia e ele desenhava".

Sobre os autores sabemos que eram ligados ao mundo da publicidade, Pierre Rousselet foi diretor de arte da Standard-SP em 1977, tendo recebido diversos prêmios na área. Roberto Duailibi (1935) é formado pela Escola de Propaganda de São Paulo. Iniciou sua carreira em 1952, na Colgate - Palmolive. A partir de 1956 trabalhou como redator em agências como CIN - Companhia de Incremento de Negócios (atual Leo Burnett Publicidade Ltda), JWT, McCann Ericson e na Standard Propaganda (Atual Ogilvy & Mather), onde foi vice-presidente de criação. Em 1968 associou-se a José Zaragoza, Francesc Petit e Ronald Persichetti na formação da DPZ , uma das maiores e mais premiadas agências publicitárias do país. Eleito "Publicitário do Ano" em 1969, no Prêmio Colunistas.

Agradecimentos ao amigo João Antonio Buhrer pela imagem do anúncio.

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Bib's - Zero Hora - 1994


Entre 1994 e 1997, no jornal gaúcho Zero Hora, apareceram as tiras de Bib's.

Embora tendo um fundo comercial consumista, Bib's logo cativou a atenção dos leitores, aumentando a paixão por esse chocolatinho recheado, de formato redondo. 


Fruto da criatividade de Eduardo Axelrud (1966) e do desenhista Regis Montagna (1968), Bib's acabou ganhando dois álbuns, de enorme sucesso na Feira do Livro de Porto Alegre, em 1994 e 1996. O pri­meiro, reunindo as tiras iniciais, chamou-se Bib's, o livro (Mercado Aberto). O segundo, editado pela Artes e Ofícios, ganhou como título Bib's, o outro livro


Apesar das limitações (Bib's é apenas uma bolinha negra), Axelrud e Montagna criaram uma verdadeira obra-prima no gênero, permanecendo na memória de todos até hoje.

Enciclopédia dos Quadrinhos - Goida e André Kleinert - L&PM - 2011

domingo, 17 de setembro de 2017

Arbustinho - Diário de S. Paulo - 1964


Trabalho de estreia do cartunista Edú (Eduardo Carlos Pereira), Arbustinho foi publicado no Diário de S. Paulo em 1964. 

O personagem, um garoto com cabeça de arbusto, aparecia semanalmente no Suplemento Feminino, embora, por um breve período, tenha sido veiculado diariamente junto com as outras tiras do jornal.


Na maioria das vezes em gags mudas e nonsense, seguia a linha de outras séries internacionais do diário como Carlão de Tom Kerr, Don Ramon (Pops) de George Wolfe e Victor do cartunista Mozo.


Sobre Edú sabemos que é o criador de personagens como o Praça Atrapalhado e o Dr. Estripa, publicados pela Editora Super Plá e Saber, de São Paulo. Também criou inúmeras capas para estas editoras, em títulos como Brucutú, Família Buscapé, e outros.

Nasceu em São paulo em 1947. Quando jovem lia O Tico-Tico e admirava Hal Foster, o criador do Príncipe Valente.


Sem um estudo formal de desenho, iniciou-se profissionalmente em 1964, aos 17 anos, nos Diários e Emissoras Associadas. Era chargista e lá criou seu primeiro personagem, O Arbustinho, em tiras semanais para o Diário de S. Paulo. Com o fechamento do jornal entrou para a editora Saber, dos irmãos Savério e Bértolo Fittipaldi. Era o ano de 1970 e estava com 23 anos.

Percebendo que o mercado carecia de material novo, nacional, criou o Dr. estripa e o Praça Atrapalhado que foram aceitos e gozaram de relativo sucesso, inclusive com revistas próprias. Em 1972, com 25 anos, outra criação sua teve uma edição única via Saber: Big Músculus, além da personagem A Bruxa, citados até hoje por profissionais da área como ótimas referências do quadrinho nacional no período.

A Bruxa - editora Super-Plá.

Após a editora Saber, fez parte da equipe Disney na editora Abril, desenhando também material de Hanna e Barbera e Pantera Cor-de-Rosa.


Bocage - Anedotas e Piadas - editora Super-Plá.

Em 1973 idealizou o mascote da série Vagalume da editora Ática, o Luminoso. A coleção juvenil iria alcançar mais de 100 títulos e marcaria várias gerações nos anos seguintes. Luminoso passou a protagonizar histórias em quadrinhos nas orelhas dos livros onde repassava a sinopse da história em conversa com o leitor.

Participou também da revista Pancada da Editora Abril, uma revista nos moldes da Mad, em maio de 1978.

A partir de 1981 Edú criou seu próprio estúdio de design gráfico, o Lápis Mágico, em atividade até hoje.

Agradecimentos ao amigo Marcos Eduardo Massolini pela entrevista com Edú.







terça-feira, 12 de setembro de 2017

Caiçarinha - A Tribuna - 1967

Em setembro de 1967 o jornal A Tribuna de Santos passou a publicar em seu suplemento infantil semanal A Tribuninha as tiras do Caiçarinha, criação de Mauricio de Sousa.

Como era um jornal do litoral paulista, a impressão que se tem é que o personagem foi desenvolvido especialmente para esse veículo.
 
A tira prometia bastante em termos de humor e criatividade, apresentando as aventuras do Caiçarinha e seu companheiro, um caranguejo de nome Siri Cotico, mas foi interrompida no 16º capítulo sem concluir a aventura.
 
Em maio de 1968, após um breve período como tira diária a série foi novamente descontinuada.

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Guta - Capricho - 1987

Na década de 1980 a revista Capricho da editora Abril mudou sua linha editorial. Deixou para trás as fotonovelas e passou a ser uma revista de comportamento, moda e beleza dirigida ao público feminino jovem, adotando inclusive o slogan "a revista da gatinha".


Mirando esse público adolescente, o cartunista Miguel Paiva criou a personagem Guta, uma menina de dezessete anos às voltas com os dilemas das garotas da sua idade. Inicialmente a seção chamava-se Meu Diário, passando posteriormente a assumir o nome de sua personagem principal.
Abaixo uma entrevista concedida pelo artista à revista em Abril em 1987.

LINHA DIRETA COM MIGUEL PAIVA

Ele é um dos mais brilhantes desenhistas de humor deste país. Colabora com inúmeras revistas, entre elas Capricho. Neste bate-papo você finalmente vai conhe­cer o pai da Guta, que assina o seu divertido diário na nossa última página:

Capricho - Há quanto tempo você trabalha com cartum?

Miguel Paiva em O Cruzeiro - 1967

Miguel Paiva - Já faz vinte anos. Co­mecei muito cedo, com 17 anos, por volta de 1966, 67, colaborando no Jor­nal dos Sports do Rio de Janeiro. Foi a primeira vez que ganhei dinheiro por alguma coisa que fiz. Fiquei fascina­do. Logo percebi que não era um cartunista típico, mas um desenhista de humor, e que essa atividade estava as­sociada em mim a outras formas de expressão, como escrever para teatro e letras para música.

C - Você costuma trabalhar em casa?

MP - Sempre trabalhei em casa. Não sei o que é trabalhar fora e receber um hollerith no fim do mês. Tenho uma ligação muito forte com as coisas da casa, dos mó­veis à organização das tarefas e cuida­dos com os filhos. Em casa nunca houve aquele negócio de dizer "meu marido é muito bom, ele me ajuda muito". Minha mulher trabalha fora e nós dividimos tudo. Agora, é claro que o trabalho não pode ser prejudica­do. Em casa todos já se acostumaram a isso.

Jornal dos Sports - 1967

C - Quantos filhos você tem? 

MP - Três, Diego, de 11 anos, Adol­fo, de 9, e Vítor, de 4. Sempre quise­mos ter uma filha mas não pintou. Nossa relação com os meninos é tão forte, tão mágica, que não importa se eles são filhos ou filhas. 

C - Então a Guta é a filha que você não teve. Como é sua relação com ela? 

MP - E complicadíssima. Ela é real­mente a filha que eu gostaria de ter. Claro que não com essa idade, pois não sou tão velho assim. Eu gostaria de mostrar a Guta absolutamente li­bertária, fazendo o que bem entendes­se. Mas seria uma coisa irreal, porque as coisas não acontecem assim.

C - Fale dela ... 

MP - Ela sabe a crise que esta viven­do. Da dificuldade de romper com a estrutura antiga dos relacionamen­tos com os pais, namorado etc. Ao mesmo tempo se vê em ciladas tre­mendas, porque ainda não sabe quais os instrumentos que pode usar para conseguir o que deseja. Mas a Guta tem a capacidade de perceber o mundo em que pisa e eu espero que os jovens desenvolvam cada vez mais essa capacidade. 

C - O que o "pai" de uma adoles­cente espera dos jovens? 

MP - Olha, eu não espero nada. Não concordo com a responsabili­dade que querem jogar sobre as cos­tas deles. A responsabilidade do mundo que está aí é das gerações mais velhas. O jovem precisa se construir, viver essa coisa extrema­mente prazerosa que é a juventude, para mais tarde poder enfrentar os problemas do mundo.

C - Você largou os estudos antes de completar o segundo grau. Como sua família reagiu a isso?

MP - Nunca cultivei o mito do diploma. Abandonei o Clássico pela metade e não me arrependo. A fa­mília até que reagiu bem. Viram que eu estava tão determinado a seguir o caminho que escolhi, que acabaram me dando força. 

C - Não era a "rebeldia da juventu­de" de que falam? 

MP - Não, é claro que não. Existia um esforço meu em direção a um objetivo. E se há esse esforço é ine­vitável que se consiga o que quer. Com o incentivo dos pais fica mais fácil, e os meus perceberam que é bobagem querer programar a vida dos filhos. 

C - Como foi o adolescente Miguel Paiva? 

MP - Eu fui um adolescente com extremas dificuldades de expressão. Fazia análise, era gago. Um drama, porque sua sobrevivência nesta fase depende da sua capacidade de expressão. Acredito até que a minha necessidade de escrever, de dese­nhar, tenha vindo daí. 

C - Há uma enorme quantidade de rádios antigos espalhados por sua casa. E alguma espécie de paixão? 

MP - Sem dúvida. Malu, minha mu­lher, tem uma espécie de loja de an­tiguidades - um modernário - e numa de suas andanças achou esta coleção de rádios. São mais de 150 e a maioria funciona perfeitamente. 

C - De onde vem essa paixão? 

MP - Não sei ao certo, mas antiga­mente o rádio tinha uma força mui­to grande na vida das pessoas. Elas se sentavam em volta dele e o olhavam, imaginando as cenas que estavam sendo descritas. Por isso têm linhas tão bonitas. 

C - E O que você está achando do Brasil em tempos de Constituinte? 

MP - O Brasil, na realidade, são dois: o Brasil partidário, do Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre e Reci­fe, supostamente real, e um outro país, imenso, que morre de fome. A gente passa a vida inteira tentando se convencer de que esse outro país não existe. Mas a verdade é que nenhuma solução virá enquanto esse Brasil não for levado em conta.

Entrevista a Milton Belintani Filho
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Sobre Miguel Paiva a Enciclopédia dos Quadrinhos de Goida e André Kleinert (L&PM - 2011) esclarece:

PAIVA, Miguel Brasil (1950) 

O carioca Miguel Paiva é mais um dos casos em que o artista primeiro se consagra no exterior para depois ganhar espaço maior aqui. Profissional do cartum desde os dezessete anos (publicou seus primeiros trabalhos no Jornal dos Sports), passou pelo O Pasquim (1969-1973), Última Hora e Sta­lus. 

Como a barra andava pesada naquela época, mudou-se para a Itália, mais particularmente Milão, onde permaneceu até 1983. Foi lá que criou a sua primeira série de quadrinhos, "Madame Mistério", publica da na revista Linus. 

O Casanova de Miguel Paiva.

Também participou da edição coletiva de As memórias de Casanova, ao lado de artistas de renome, como Guido Crepax, Dino Bataglia, Altan e Oski (publicada no Brasil pela coleção "Quadrinhos L&PM"). 

No seu re­tomo, passou a desenhar em tiras diárias, a partir  dos argumentos de Luis Femando Veríssimo, As aventuras de Ed Mort. Essas deram, em coletâneas formato álbum, quatro títulos - Procurando o Silva, Disneyworld Blues, Com a mão no milhão e Conexão nazista (todos igualmente da coleção "Quadrinhos L&PM"). Mantendo intensa atividade gráfica e de cartuns além da criação de quadrinhos, Miguel Paiva criou, para a revista isto É, as páginas semanais de Happy Days (crônica de uma família de classe média, empobrecida, que vai perdendo seus sonhos por causa dos contínuos pacotes e deteriorização do poder aquisitivo).  

Mais tarde, para a revista Domingo, do Jornal do Brasil,  criou Radical Chic, irônica e divertida sátira sobre uma típica mulher urbana de trinta anos (que se auto denomina, "sou um pupurri de emoções"). Radical Chic também ganhou álbum na coleção "Quadrinhos L&PM". Junto com Júlio José Chiavenatto, Miguel Paiva criou para a Editora Brasiliense, na série "Redescobrindo o Brasil", o álbum Olha lá o Brasil! Na Itália, as histórias de Ed Mort foram traduzi das em revistas e já ganharam um álbum. Paiva participou também das revistas Inter Quadrinhos e, principalmente Bundas (1999-2000). Nessa, criou mais dois personagens antológicos, Charlote, a emergente (quase quarenta páginas), e Betão, o futuro da nação (vinte páginas). 

Antes disso, tinha desenhado Gatão de meia idade, cujas tiras ganharam dois álbuns pela Editora Objetiva em 1995/96. Pela mesma editora saiu ainda em 1995, o Almanaque Radical Chic. Ainda dela tivemos o livro chamado Livro de pensamentos da Radical Chic (Penso, logo mudo de ideia!) editado pela Record, em 2001. Mais recentemente pela Cia. Editora Nacional, saíram mais três álbuns da Radical Chic e também três do Gatão de meia idade, inclusive um volume com as primeiras tiras do personagem. 

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Capitão Tarumã - Última Hora - 1964


Capitão Tarumã é um heroico caçador criado por Manoel Victor Filho. Suas tiras foram distribuídas pela Barbosa Lessa Produções e publicadas no jornal Última Hora em 1964 (e não 1963 como é comumente indicado). 

Em sua primeira aventura, Tarumã deve viajar à floresta amazônica para salvar seu amigo, o naturalista Bergman, com a ajuda de Vivian, a filha do mesmo e de seu fiel mordomo Jacá.


Sobre Tarumã, Ionaldo Cavalcanti escreveu: "Em 1963 (1964), Manovic (Manuel Victor Filho), hoje diretor da Escola Panamericana de Arte, criava esta série de aventuras para a Barbosa Lessa Produções. Capitão Tarumã era publicado em tiras diárias do jornal Última Hora em 1963".

O Mundo dos Quadrinhos - Edições Símbolo - 1977


As tiras de tarumã foram agrupadas e publicadas em forma de páginas semanais no Suplemento Juvenil do Correio da manhã (RJ) em 1964.

Sobre Manoel Victor Filho, Goida e André Kleinert escreveram: "MANOEL VICTOR FILHOBrasil (1927-1995) - Pintor, ilustrador, capista e publicitário, Manoel Victor Filho (que às vezes assina Manovic) deu também a sua contribuição aos quadrinhos brasileiros. Trabalhando para a EBAL na década de 50, adaptou para a Edição Maravilhosa um romance de aventuras do pai, Os dramas da floresta virgem. 

Admo, revista Aventura e Ficção.

Mais tarde realizou, em tiras, para Barbosa Lessa Produções, Capitão Tarumã (1963). Em 1989, depois de muitos anos de ausência, ele reapareceu na revista Aventura e Ficção (Abril) com a bela história de ficção futurística, Admo, de argumento próprio.

Enciclopédia dos Quadrinhos – L&PM Editores - 2001

A técnica do desenho - Jayme Cortez - Editora Bentivegna - meados dos anos 1960.

Sobre Barbosa Lessa: "Sempre foi um sonho de quadrinistas brasileiros ver seu trabalho distribuído nos moldes das grandes agências distribuidoras americanas, os syndicates, como a King Features, a United Features ou o Chicago Tribune. No início dos anos 1960, coincidentemente, surgiram no Brasil duas tentativas de se fazer isso, a Maurício de Sousa Produções, que além do trabalho do próprio Maurício distribuía também O Gaúcho, de Júlio Shimamoto e Vizunga, de Flávio Colin. A Barbosa Lessa Produções Artísticas, distribuindo Gatinha Paulista, de José Delbó, Capitão Tarumã, de Manoel Victor Filho, Jacaré Mendonça e Amores Históricos de Rodolfo Zalla e ainda O Bandeirante de Luiz Saidenberg, sua última tentativa de permanecer nos quadrinhos.

Luiz Carlos Barbosa Lessa foi um importante produtor cultural muito ligado às tradições gaúchas. Folclorista, letrista, poeta, escritor, produtor e apresentador de TV, publicitário e relações públicas, foi também Secretário de Cultura de Porto Alegre e tem diversos livros publicados que versam sobre assuntos variados, desde a história do chimarrão a casos de marketing.

Ele escreveu todas as histórias de sua distribuidora, que durou de 1963 a 1964, sendo publicadas em jornais como Última Hora e O Diário Popular".

Revista Memo nº 3, setembro de 2013.

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A matéria e a ilustração a seguir foram publicadas no livro “Comunicação pela Arte -8ª Série” de Ornaldo Fleitas - FTD - 1978

Manoel Victor Filho


Atualmente, diretor e professor da Escola Panamericana de Arte, o centro mais dinâmico para quem quer estudar ilustração e outras áreas das artes. É conhecido como ilustrador de HQ. 

- Manuel Victor, como se forma um desenhista?

Através de um método pedagógico adequado, onde a condição primordial é ensinar a ver, pensar e desenhar.

- Precisa ter vocação ou a gente pode se tornar um bom desenhista apenas com o esforço pessoal e uma boa orientação?

Toda a pessoa que segue a orientação pedagógica de nossa escola, tem condições naturais para aprender a desenhar.

- Com a sua experiência no campo do ensino do desenho, acha que há pessoas sem nenhuma inclinação para o desenho?

Há pessoas que desconhecem o seu próprio potencial; cabe à Escola fazer ver
este caminho, orientando-as, preparandoas, incentivando-as para que surja sua verdadeira inclinação artística.

- Na Panamericana de Arte, já se formaram desenhistas que no começo pareciam não ter nenhuma inclinação?

Não só se formaram, como muitos estão colocados profissionalmente.

- Num curso, durante as férias, acha que dá para ver se a gente tem ou não tem inclinação para a ilustração?

O período para definir na orientação vocacional depende de indivíduo para
indivíduo.

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Manuel Vítor Filho

Manoel Victor de Azevedo Filho, (São Paulo, 9 de agosto de 1927 — São Paulo, 26 de março de 1995) foi um pintor, desenhista, ilustrador, cartunista e professor brasileiro filho de Manoel Victor de Azevedo e Emma Crivelente.

Biografia

Manoel Víctor, aos quinze anos, já havia decidido que sua vida profissional estaria ligada às artes. Por isso, ao invés de procurar um curso universitário como qualquer jovem de classe média, foi estudar nos Estados Unidos,já que no Brasil não existiam cursos para tal.

Lá chegando, matriculou-se na antiga e tradicional escola Art Students League of New York, a mesma onde anos antes fora frequentada por Anita Malfatti.

Entre vários professores de renome que ali lecionavam, escolheu a classe de Frank Riley, um dos mais afamados mestres da ilustração americana. Foi o primeiro ilustrador brasileiro a usar o óleo nos trabalhos de ilustração.
Também foi pioneiro em levar desenhos para a televisão esboçando-os ao vivo. Isto ocorreu em 1953 na TV Record de São Paulo, então uma emissora recém fundada por Paulo Machado de Carvalho, no programa infantil produzido por Eduardo Moreira. Foi grande o seu sucesso.

Foi ilustrador e Diretor de Arte na agência de publicidade CIN e sócio fundador da Escola Panamericana de Arte - EPA
https://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_V%C3%ADtor_Filho


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A matéria abaixo foi publicada no jornal Correio Paulistano em 27 de dezembro de 1953.

MARAVILHAS DE UM LÁPIS NO MILAGRE DO VÍDEO

Macacos, bruxas e fadas no mais curioso programa infantil da televisão brasileira - A ilustração comercial entre nós - Manuel Vitor de Azevedo Filho, mestre de 25 anos.

Texto de FERNANDO CARDOSO DE MENEZES

Muito embora não se possa afirmar ainda que a televisão no Brasil tenha vencido plenamente, podemos reconhecer no entanto que em três anos de vida, registra ela um notável avanço técnico e artístico, oferecendo por vezes programas de alto nível estético, surpreendendo pelo arrojo da idéia, pela originalidade de sua apresentação e pelo expressivo conteúdo que encerram. São realizações honestas, que vencendo a fase primeira das tentativas e experiências, ficam no panorama artístico de nossa terra, ensinando lições de bom gosto, exemplos de capacidade criadora, e permanecem como ponto de referência para os críticos e roteiro de bons programas para o público que vê e aprecia televisão.

Muita coisa que a TV apresenta hoje como novidade, é o resultado de velhas idéias que o rádio já explorou e parou no ponto máximo de seu aproveitamento. Desse modo a TV se apresenta como a evolução lógica do rádio, que fez tudo o que se podia imaginar em materia de criação artística sonora. A TV como o rádio animado completa de forma admirável aquele soberbo espírito de profundidade que elevou aos Himalaias da arte a força fascinante e sugestiva da radiofonia.

Estas considerações foram inspiradas pelo programa que a TV - Record, canal 7, apresenta às segundas e quintas-feiras, no horário de 19 às 19:20h, considerado um dos mais perfeitos programas infantis da televisão brasileira, pelo ineditismo de sua concepção e pelo alto valor artístico que o consagra, como uma das belas e úteis realizações em favor do desenvolvimento mental da criança brasileira. Porque na verdade esse novo programa da TV - Record reúne todas as qualidades para se constituir num bom educativo infantil, considerados seus aspectos pedagógico, moral e artístico.

HISTÓRIA A 4 MÃOS

É uma produção de Eduardo Moreira que apresenta o jovem artista Manuel Vitor de Azevedo Filho, uma das mais vigorosas vocações da moderna geração de desenhistas brasileiros, movimentando com a firmeza do seu traço, as mais interessantes lendas da nossa literatura infantil. Reunidas diante da câmaras as crianças vão ouvindo as histórias do narrador, enquanto Manuel Vitor vai compondo “na hora” as flgurinhas mágicas que fazem o encanto da petizada.

Temos visto desenhistas de valor (e hoje existem muitos no Brasil) projetados pela imprensa e por concursos escolares e comerciais, mas o caso de Manuel Vitor merece uma referência especial pelo fato de ser o primeiro artista do gênero a criar na televisão um programa dessa natureza, cuja dificuldade não está logicamente na criação das figuras, mas na raplidez e perfeição com que são executadas, naquele turbllhão de luzes e vozes, naquela maravilhosa alacridade que só o mundo infantil possue, buliçoso e puro como a própria alma das crianças.

Enquanto acompanhávamos as sequencias do programa num canto do estúdio, o telefone trazia de todos os cantos da cidade os mais engraçados pedidos, que M. Vítor Filho vai atendendo com aquela admirável compreensão da alma infantil caraterística báslca de todos aqueles que se dedicam a educação da infância, sejam quais forem os veículos colocados ao seu alcance. Depois de feito o macaco, corre um garotinho do fundo do estúdio e pede para colocar um chapéuzinho; logo mais vem a menina de tranças e exige óculos de tartaruga, depois o macaquiuho deve andar de bicicleta e assim por diante... Imaginem os leitores o malabarismo que deve fazer o artista para não desapontar esses fãs de verdade, os mais adoráveis tele-espectadores do mundo...

HISTÓRIA DE UMA VOCAÇÃO

Logo depois que o locutor anunciou o término do programa, com oooooooh! geral da petizada, conversamos com Manuel Vitor de Azevedo Filho, que lembrando pedaços de sua carreira, e abordando de um modo geral as várias modalidades do desenho entre nós, assim se manifestou:

- “No Brasil ainda não temos escolas especializadas de ilustração comercial, como existem nos Estados Unidos, por exemplo. Penso que se deveria fazer alguma coisa por essa arte, já que em nosso meio os ilustradores caminham quase que a parte dos demais artistas. Por essa razão justamente não desfruta a classe a consideração devida ao seu valor, desaparecendo muitas vezes no turbilhão dessa injustiça, trabalhos que muito serviriam para elevar o nome da arte brasileira, o valor dos nossos profissionais e o padrão das nossas criações. Já conseguimos a custa de ingentes esforços uma posição de respeito no cenário artístico internacional, com as mais expressivas mostras de uma capacidade que se não atingiu ainda o nível de perfeição desejada, em ponto algum desmerece as nossas realizações. Assim sou entusiasta de um movimento no sentido de se criar um melhor entendimento, um clima de maior boa vontade para melhor se apreciar e valorizar os profissionais dessa especialidade.

“Gostaria de lembrar - prossegue Manuel Vitor Filho - a experiência que tive nos Estados Unidos, como aluno da “Art Studients League”, onde pelo espaço de dois anos mantive contato com os maiores nomes da ilustração comercial de nosso tempo, como Norman Rockwell, da Revista “Post”. Considerado um dos maiores do país, tendo seus trabalhos no Museu Americano, autor de obras de extraordinário mérito, como a campanha do “Freedom of Speak”, desenvolvida durante a última guerra. Além disso é tal o número de profissionais e tão profundo o conceito em que são tidos, que existem vários sindicatos para defesa dos seus interesses e propugnação dos seus ideais. Entre nós grupos esparsos realizam tentativas para a criação desse espírito, como a Associação Paulista de Desenho, cujo trabalho em favor desse objetivo deve merecer apoio decidido de todos nós.

Alex Raymond, autor do Flash Gordon, Milton Caniff, Al Capp e muitos outros, além do renome internacional que grangearam com suas geniais produções, tornaram-se também milionários, o que reflete ainda uma vez a situação desses artistas do lápis no fabuloso país dos dólares”.

- Voltando ao programa, desejamos consignar a nossa satisfação pela linha de programação da TV - Record, canal 7, pelo prestígio que empresta ao programa em apreço, considerando a importância da televisão para o ensino e formação moral das crianças, atraídas hoje pelas mais deleterias influências, pelos mais corrosivos dissolventes que a ignorância de uns e a má fé de outros, apresentam todos os dias, como “agradáveis passatempos infantis”.
Manuel Vitor de Azevedo Filho, pioneiro do desenho infantil na televisão brasileira, já desenhou para a N.B.C.. de Nova York, trabalhos apresentados em forma de “slides’” ou seja, figuras fixas, mas de grande efeito visual e repercussão artística. Na Rádio Tupi de São Paulo reeditou os êxitos obtidos nos Estados Unidos, com a sua admirável e curiosa técnica, ilustrando na mesma emissora as aulas de inglês de Mr. Pip, outra realização cultural que muito bem define a honestidade de uma vocação e o roteiro de trabalho de um talentoso artista do desenho.

Agradecimentos ao amigo Francisco Dourado pela dica da matéria acima.

domingo, 3 de setembro de 2017

Roque Corvo - A Tribuna - 1968


Em 1960 o jornal A Tribuna de Santos lançou seu suplemento infantil, A Tribuninha, veiculado às segundas-feiras e posteriormente às quintas. 

Em 1967 passou a publicar Roque Corvo, um detetive aventureiro na linha de Jim das Selvas resolvendo casos misteriosos pelo mundo. Criado pelo cartunista Miguel Escandon Sanches, era publicado semanalmente nesse mesmo suplemento. 

Escandon começou muito cedo, aos 14 anos, em 1963, como colaborador de A Tribuninha, fazendo piadas e passatempos.