sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Zé Farol - A Gazeta - 1974

Publicado pelo jornal paulistano A Gazeta, da Fundação Casper Líbero, Zé Farol era desenhado por Abílio Corrêa, desenhista que atuou por muito tempo no departamento de arte da extinta TV Tupi.

Segundo Ionaldo Cavalcanti em seu livro O Mundo dos Quadrinhos: "Série humorística de autoria de Abílio, datada de 1975, é publicada no jornal A Gazeta, de São Paulo. Contador de vantagens, Zé Farol, é uma repetição de Dr. Macarrão, de Carlos Estevão".


Ionaldo foi um pouco severo em seu julgamento. Zé Farol tem o mérito de ter sido uma série de fôlego, sendo publicada por pelo menos dois anos seguidos (1974/1975), além do seu autor, Abílio, ter uma arte bastante pessoal e eficiente e, aparentemente, retratar figuras de seu convívio pessoal nas tiras. Uma outra série que lembrava o Dr. Macarrão era o João Cascata de Jair, publicada no jornal Notícias Populares.


Zé Farol já era citado em 17 de julho de 1951 no jornal Diário da Noite (SP): "Também o criador do Zé Farol, Abílio Corrêa, é um dos dirigentes dos novos estúdios cinematográficos Jaraguá, recém fundados em S. Paulo".
 
Foi publicado também no jornal Folha da Tarde em 1955 e na revista Bom Humor da editora Jotaesse entre 1967 e 1970, com podemos ver na figura abaixo.


 

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Bugrinho - Folha de S. Paulo - 1964

Bugrinho conta as aventuras de um garoto índio em sua aldeia, às voltas com pescarias e arcos e flechas. Participam das históriaas, além do próprio Bugrinho, seu amigo Jacá, um jacaré, Tupizão, um índio adulto e interesseiro, Chuvanococo, um outro adulto, o Pagé e sua esposa.

Publicado pela Folhinha de S. Paulo em 1964, foi criado por Izomar e levava o copyright da Maurício de Sousa Produções, sempre em histórias de uma página.

Sobre Izomar, que também foi autor da tira do Zé Pessimista, a maioria das biografias disponíveis na rede dão destaque mais ao seu lado escritor do que ao seu lado desenhista, como esta, disponível na Wikipédia

"Izomar Camargo Guilherme (Botucatu, 1 de dezembro de 1938) é um escritor, ilustrador e capista brasileiro. Izomar graduou-se como professor de Ensino Fundamental básico na cidade de Assis - SP - profissão, esta, a qual, nunca exerceu. Suas primeiras experiências na arte de escrever se deram ainda na infância, influenciado por Monteiro Lobato e revistas em quadrinhos. Começou a exercitar-se na escrita elaborando roteiros de histórias de humor – tema constante de sua obra. As histórias em quadrinhos o impulsionaram a escrever seu primeiro livro, A lagartixa que virou jacaré. 
Geloso, o gelinho - texto e ilustrações de Izomar - ed. FTD - 1993

Mudou-se para São Paulo em 1968 e foi um dos fundadores da Revista Recreio, em 1969, da Editora Abril - escrevendo e ilustrando uma série de histórias infantis - e ilustrador de quadrinhos Disney como os de Zé Carioca e Pato Donald. Também foi o autor de ilustrações de capas da obra de Monteiro Lobato para as publicações do Círculo do Livro. Adora viajar, gosta muito de futebol e cinema, mas sua paixão é mesmo escrever e desenhar, principalmente para crianças. Sua obra mais complexa é O fogo dos deuses, na qual Izomar trabalhou durante doze anos na preparação, apoiado em extensa bibliografia de quase 400 títulos, percorrendo um intervalo histórico de 2600 anos, cobrindo tanto os usos pacíficos quanto os militares da energia nuclear".
Izomar no livro A Técnica do Desenho - ed. Bentivegna - Década de 1960.

Coleção Mini-maravilha - Ed. Krung. Izomar durante a década de 1970 colaboraou com várias pequenas editoras paulistanas, mas sempre sem assinar, por força de seu contrato de exclusividade com a editora Abril.

O Mundo dos Quadrinhos - Ionaldo Cavalcanti - Ed. Símbolo - 1977 



quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

A Turma da Bola - Projeto Tiras - 1979


A Turma da Bola, do desenhista e animador Guy Lebrun, é provavelmente a série menos conhecida do Projeto Tiras, lançado pela editora Abril em 1979. No decorrer do texto saberemos o porquê.

De acordo com o folheto promocional do Projeto: "A Turma da Bola - foi inspirada nos grupos de meninos de bairro e suas brincadeiras, principalmente as populares peladas de rua.

Em suas aventuras participam os mais divertidos personagens, como Picolé, o capitão do time, meninas contestadoras e cães incríveis, além de uma dose dupla de alegria".


"Guy - nasceu a 9 de marco de 1930, na cidade de Lyon, na França, onde frequentou a Escola de Belas Artes local, e com 17 anos publicou sua primeira história em quadrinhos: Marco Polo. Em 1950, já no Brasil, publicou histórias em quadrinhos no jornal carioca O Globo.

Com a ajuda de sua esposa produziu inteiramente um dos primeiros desenhos animados do Brasil, para a Loja Três Leões. Guy aprendeu a técnica de animação sozinho, já que quase nada tinha sido feito nessa área antes de seu trabalho. Produziu mais de mil filmes comerciais de animação, alguns com bastante sucesso.

Fez também os desenhos animados com Branca de Neve e os Sete Anões para publicidade da Arno, com autorização especial dos Estúdios Disney e um curta-metragem da Turma da Bola, cujos personagens já foram publicados na revista Recreio da editora Abril.

A Branca de Neve de Guy para o comercial animado da Arno. Para assistir clique aqui.

Atualmente, Luiz Briquet é o continuador das obras de Guy Lebrun".

Segundo Wagner Augusto, editor do Projeto: "O desenhista Guy Lebrun estava programado para a primeira fase do projeto, chegamos a produzir o seu portafólio. Houve algum problema com relação a direitos autorais e o departamento jurídico da editora solicitou o cancelamento da distribuição das tiras. O desenhista, que havia falecido em 18/03/1978, teria seus personagens desenhados por Luiz Briquet".

A Turma da Bola na revista Recreio - editora Abril - 1973

Acima e abaixo, o Marco Polo de Guy Lebrun em 1949
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No site Campos do Jordão Cultura podemos ler uma completa biografia de Guy Lebrun, reproduzida a seguir: 

"Guy Boris Lebrun ou Guy Lebrun como era mais conhecido, nasceu na França em 1930 e veio para o Brasil em 1949. Era filho de Emile Xavier Raymond Lebrun e Georgette Pasquier. Foi casado com Gerda Angelika Lebrun e tiveram dois filhos Ivo Lebrun, nascido em São Paulo 09/10/1956 e Diana Lebrun, nascida em São Paulo em 19/04/1960, já falecida. Em 1956 iniciou-se na animação. Com o sucesso do seu trabalho e observando a aceitação do mercado, fundou a “Dinamic Filmes” onde criou personagens memoráveis, entre eles: o Tio Wilson, os famosos personagens do arroz Brejeiro e seu companheiro o Marinheiro, o Castor das Telhas Brasilit e os elementos químicos da Ultrafértil. Na década de 1970 criou o Bamba das Alpargatas. Em 1976 criou o Gato das Pilhas Everedy e muitos outros. 

O comercial animado do Bamba 707.

Comercial do arroz Brejeiro.

Guy, sempre envolvido com esse trabalho cativante, foi profissional pioneiro na área a idealizar a animação como processo de alfabetização. Esse trabalho foi desenvolvidos pelo “Studio Guy”. No ano de 1962 o INCE, com a direção de Guy Lebrun, produziu o filme H2O, dirigido à área didático/educacional. Em 1966 produziu a série Alfabeto Animado. Fez também um comercial animado para a Arno, com a Branca de Neve de Walt Disney. 


Cenas do Alfabeto Animado.

Seu pai Emile Xavier Raymond Lebrun, nascido na Bélgica, porém residindo por boa parte da sua vida na França, veio ao Brasil reencontrar o filho logo após a morte da esposa Georgette. Primeiramente Xavier Lebrun residiu na cidade de São Paulo. Logo que ficou sabendo da existência de uma cidadezinha localizada em região montanhosa, com clima semelhante ao europeu, subiu as montanhas de Campos do Jordão e nunca mais saiu. Permaneceu na cidade até os últimos dias da sua vida. Em Campos do Jordão foi proprietário do Hotel Everest.

Depois que vendeu o Hotel, Monsieur Lebrun passou a residir em uma das casas pertencentes ao Campos do Jordão Tênis Clube.

Na década de 1960 Guy Lebrun frequentava Campos do Jordão, para visitar seu pai, Monsieur Lebrun. Em meados da década de 1970 Guy foi proprietário de uma casa em Campos e havia comprado dois lotes de terreno nas proximidades do Campos do Jordão Tênis Clube, onde pretendia construir um estúdio e dar continuidade ao seu trabalho.

Em 18/03/1978 Guy Lebrun faleceu aos 48 anos de idade. Deixando porém um trabalho de grande valor para a animação brasileira".

Para assistir a uma entrevista com Guy Lebrun, clique aqui.

Agradecimentos ao jornalista e editor Wagner Augusto e ao animador Clóvis Vieira.

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

O Pinto - Jornal dos Sports - 1967

Em 1967, o suplemento Cartum JS, do Jornal dos Sports, que já publicava O Pato, de Ciça, ganhou mais uma ave em seu elenco: O Pinto, do cartunista e animador Stil (Pedro Ernesto Stilpen - falecido em 2017). 

A série contava de maneira bem humorado as aventuras de um pinto em contato com vários outros animais, como uma minhoca, uma coruja e uma formiga (com quem teve um filho!).
Quando da estreia do cartunista, o suplemento publicou: "Stil, assim como o hospital, também se chama Pedro Ernesto. Stil vem do fato de ele se chamar Pedro Ernesto Stilpen, para não ser confundido por nenhuma ambulância. Como Stilpen é menos bom do que Stil pra nome de humorista, ele vai ser chamado (e ficará terrivelmente conhecido) pelo apôdo de Stil. Mas, por favor, não falem em apôdo com ele. Stil, apesar desta apresentação, é um jovem de refinado bom gosto".

Durante a duração da série o suplemento publicou: "Tudo começou quando Stil inventou o pinto, um pobre pintinho normal, inseguro, burguesinho, cheio de problemas normais. Foi grande amigo de uma minhoca, depois de uma coruja, ambos altamente politizados e cultos, que quase fundiram a cuca do pobre pintinho. Depois ele conheceu uma formiga tão normalzinha quanto ele. Bateram um longo papo, o pintinho achando a formiga um pouco mignon mas, com aquela mania de protetor, vidrando pelo fragilidade da mocinha, querendo logo ser o amigo dela. Um dia, convidado a visitar seu formigueiro, aconteceu o inevitávei. (Não sei por que é que todo mundo chama aquilo de inevitável). Tendo acontecido, o pintinho se mandou. Meses depois nasceu um forpintinho ou um pitingo estranhíssimo. O pintinho, fraco como todo ser humano normal, abandonou o lar que nem chegou a existir e saiu pelo mundo. E é aqui que nós entramos".
Stil em O Pasquim - 1976
Charge para o Jornal dos Sports - 1967.

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Sobre a carreira de animador de Stil, lendo o site Animação S.A., ficamos sabendo: "Foi lá em 1968, que, junto com outros cineastas (entre eles Antônio Moreno), Stil ajudou a fundar o grupo Fotograma com o objetivo de divulgar o cinema de animação no Brasil. Este grupo organizou diversas mostras internacionais de filmes de animação na Cinemateca do MAM, no Rio de Janeiro. Além do mais o grupo Fotograma também realizou um programa na extinta TV Continental sobre o mundo da animação.

Cena de uma animação para o programa Satiricon, da Rede Globo (1973) e do curta-metragem Urbis (1969).

Mas em 1969, o grupo, considerado subversivo, se extinguiu. Stil, que trabalhava como arquiteto numa empresa estatal foi demitido e aí decidiu largar a arquitetura pra se dedicar a aquilo que mais gostava: O Cinema de Animação. "Graças a ditadura eu deixei de ser arquiteto pra virar animador" disse ele em entrevista no documentário Luz, Anima, Ação.

E nesses mais de 40 anos, dedicado a arte da ilustração e do cinema foram inúmeros trabalhos: Curtas Metragens, roteiros de live-action e animação, livros, ilustrações, diversos personagens como a atrapalhada dupla detetives Antunes e Bandeira, Asdrubal, diversos dos "plim plims" da Rede Globo.

Cenas dos curta-metragens Filho de Urbis (1969) e Para cada grilo uma curtição (1970).

Rede Globo que aliás foi um dos lugares onde ele mais contribuiu com seu trabalho: Além dos Plim plims seu trabalho estava estampado em diversas atrações como: Faça humor não faça guerra, Satiricom, Armação Ilimitada, Domingão do Faustão e especiais de Lisa Minelli e Tom Jones.

Ainda como animador independente, sua contribuição foi valiosissima por sempre buscar técnicas baratas de produção utilizando papel de embrulho como suporte para o desenho de croquis animados com caneta hidrográfica, abrindo perspectivas para a utilização de outras técnicas: Assim foi nos filmes Status Quo (1968), Batuque (1969), Lampião ou pra cada grão uma curtição (1972), ABC (1978) e muitos outros filmes.

No ano de 2014, na terceira edição da Mostra Animação S.A. de Cariocas Animados, foi exibido o filme "Asdrubal em o que é que há com seu Peru" e Stil foi o homenageado da noite.

Mesmo após sua saída da Rede Globo a pouco mais de uma década, Stil nunca parou de projetar, de sonhar de trabalhar. E uma de suas últimas realizações foi roteirizar  o longa metragem "As aventuras do pequeno Colombo".
Ilustração para o livro As Máquinas Mágicas Do Desenho Animado (Bloch - 1978).

sábado, 24 de novembro de 2018

Wagner Augusto - Entrevista - 1979

Em 1979, por ocasião do andamento do Projeto Tiras a editora Abril lançou uma edição especial do seu orgão interno, o Jornal da Abril, com informações sobre o projeto e uma entrevista com seu editor, Wagner Augusto, que poderá ser lida a seguir, junto com as outras matérias do veículo.

Os autores e seus personagens. Da esquerda para a direita, no alto: Paulo Paiva (Inseto City); Izomar (Zé Pessimista); Ruy Perotti (Sujismundo); Igayara (Florisvaldo, o vagabundo); Renato Canini (Tibica); Jorge Kato (Tuca); Henrique Farias (Giba); Verde (O Saturniano). Abaixo: Wagner Augusto; Claudino (Inseto City); Primaggio (O Veterinário) e Avalone (Carrapicho). 

"Autor de quadrinhos é uma raça em extinção"

Um apaixonado pelas histórias em quadrinhos. Desta maneira, Wagner Augusto, 27 anos, editor do Projeto Tiras, da Divisão de Publicações Infanto-Juvenis, se define em relação à arte que, há quase um século, conquistou adultos e crianças, e que, a cada dia, ganha novos aficcionados. O Jornal da Abril dá o seu perfil e suas opiniões sobre os quadrinhos no texto abaixo. Acompanhe.

Jornal da Abril - Como você começou nos quadrinhos?

WAGNER - Comecei como desenhista, com 16 anos de idade, na Editora Pan Juvenil*, que hoje tem outro nome (Edrel), fazendo cartuns, caricaturas. O pessoal lá de casa não gostava muito da coisa, eles achavam desenhista um marginal, aquela coisa toda. Aí transei uma faculdade. Fiz Belas-Artes até o 3º ano, tranquei matrícula e nunca mais apareci por lá. Ao mesmo tempo, dava aulas de desenho em colégios. Parei tudo, fui fazer Publicidade e Propaganda na Alcântara Machado, FIAM, concluí e abri um estúdio de assessoria de propaganda, além de exercer um pouquinho, em agências, meus últimos conhecimentos. Daí fiz Jornalismo e fui trabalhar em jornal de empresa, o jornal da Agroceres, mas não parei de fazer quadrinhos, desta vez para o O Diarinho, suplemento do Diário de São Paulo (publicado em 1975, no qual colaborava com reportagens, entrevistas e resenhas relacionadas aos quadrinhos).

*Sobre isso, Gonçalo Jr. em seu livro "Maria Erótica e o clamor do sexo" (Editora Peixe Grande - 2010) escreveu: "A Edrel, nesse começo (1967), publicaria os primeiros cartuns do futuro jornalista e editor Wagner Augusto, então um adolescente que queria fazer quadrinhos".  

JA - Os quadrinhos sempre como um “bico"...

WAGNER - Mais ou menos, pois organizei congressos e encontros sobre quadrinhos nacionais várias vezes, editei uma revista em quadrinhos no Rio de Janeiro, a Klik (publicação da EBAL, Editora Brasil-América, da qual fui editor em uma das suas fases, em 1976), que conseguiu ir às bancas por três vezes. O sucesso foi relativo, já que estava uma situação engraçada: éramos um grupo de desenhistas paulistas fazendo humor para os cariocas. Mas, em 1977, o Perotti me convidou para trabalhar na Abril, no Centro da Criação. Comecei como assistente de redação; depois, finalmente, passei para o Projeto Tiras como editor. E aqui estou.

O personagem Giba já aparecia na revista Klik da Ebal, com editoria de Wagner Augusto, em 1977.

JA - Melhor impossível! Conte-nos uma coisa: como surgiram as histórias em quadrinhos?

WAGNER - Nasceram em jornais, já faz quase um século, através do personagem Yellow Kid (garoto amarelo), de autoria de Richard F. Outcault, um americano muito louco. Foi assim: os caras estavam testando cores nos jornais, e escolheram o boneco do Outcault para testar o amarelo. Pegou, fez sucesso e o resto a gente sabe

JA - Todo mundo começou a fazer também.

WAGNER - É, foi a febre dos quadrinhos.

JA - OK. E quanto à passagem dos personagens das tirinhas de jornais para revistas?

WAGNER - Bem, cresceu o número de leitores das historietas. O espaço das histórias, uma página completa, diminuiu para caberem mais autores e mais personagens, daí nascendo as tiras. Veja só: todas as histórias em revistas que não passaram, pela fase dos quadrinhos, foram frustradas. Em termos de Abril, temos o exemplo do Saci Pererê, Satanésio, Sacarrolha e Cacá e sua turma. Os bonecos do Maurício, para confirmar o que eu digo, são o sucesso que são, mas começaram em tirinhas.

JA - Não é isso que o Projeto Tiras pretende?

WAGNER - Exatamente: criar novos personagens, de autores nacionais, para publicação em tiras diárias de jornais, para, depois de difundidos, se tornarem revistas. É quase um processo natural, mas obrigatório.

Clóvis Vieira na revista Klik, da editora Ebal, 1976.

JA - O humor em tiras tem que ser curto. Em dois ou três, no máximo quatro quadrinhos, a graça tem que ser dada. O de revistas não, pode ser mais alongada. É melhor para o personagem, para o seu sucesso, a tira ou a revista?

WAGNER - Existem realidades diferentes. Nos Estados Unidos há uma pesquisa que comprova que os leitores iniciam os jornais pelas histórias em quadrinhos. E há dois tipos de humor: o humor fechado, quando a graça é dada ali e no dia seguinte os bonequinhos estão em outra situação. E há o humor de sequência, como o Flash Gordon, Mandrake, Nick Holmes. Alguns autores conseguem a proeza de deixar um clímax em cada tira para “segurar” o leitor para a próxima tira, no dia seguinte. Lá, eles gostam do humor em sequência. No Brasil, o leitor lê, de preferência, a tira de humor fechado, quase um cartum dividido em quadrinhos, certo? Há, também, o detalhe da criatividade do autor, que escolhe um tema e faz 30 tiras sem cansar o leitor, e a si mesmo também. Brasileiro não lê quadrinhos em sequência. O próprio autor nacional tem consciência disso. Pra exemplo, vale citar que o Projeto Tiras ainda não tem nenhum boneco com histórias em sequência.

JA - Mas, e a entrada dos bonecos já em revistas, é perigosa?

WAGNER - Trata-se de um projeto maior, uma revista gasta mais que uma tira, entende? É perigosa também por isso, mas não se deve esquecer que, nas tiras, o boneco tem chance e tempo de se firmar. Nas revistas, direto, não.

JA - E o humor estrangeiro, como vai?

WAGNER - Vai bem. Entra no país por um preço barato e tem boa qualidade. Só que, respeitadas as exceções, não condiz com a nossa realidade. Vamos tentar mudar essa escrita.

JA - Vocês estão enfrentando concorrência estrangeira?

WAGNER - Sim. Só o Hagar, aquele viking valentão que tem medo da mulher, é publicado em 2.500 jornais apenas nos Estados Unidos. Quer dizer, ele chega ao Brasil por um preço quase sem lucro, o lucro já foi obtido lá fora. Mas as nossas tirinhas já estão em 17 jornais - 16 de São Paulo e 1 do Ceará - e pretendemos aumentar, e muito, esses números.

JA - Pra finalizar, a qualidade das tiras estrangeiras supera as das nacionais?

WAGNER - Muitos editores ou proprietários de jornais com quem conversei, simplesmente não sabiam que se fazia nacionais, exceção ao Maurício de Sousa. Autor de quadrinhos é uma raça em extinção. Se mudarmos isso, com o Projeto Tiras, poderemos superar a qualidade do humor estrangeiro, dando condições ao autor nacional.

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Apresentação

Certamente não existem pesquisas oficiais, no Brasil, do que os leitores leem em primeiro lugar nos jornais, mas caso fosse feita alguma, uma decisiva porcentagem certamente optaria por duas seções: horóscopo e histórias em quadrinhos.

Pois a Abril, entrando em um nova mercado (embora diretamente relacionado a uma de suas atividades mais importantes - quadrinhos), passa a descortinar e oferecer novas opções para os ávidos leitores que atualmente se divertem com os personagens estrangeiros que pululam em nossos jornais.

E essa fatia do mercado, além de tentadora, parece ser fascinante. Afinal, exceção (honrosa)feita a Maurício de Sousa, não existe nenhum outro tipo de estrutura que permiia a criação e manutenção de personagens eminentemente tupiniquins. Felizmente, parece que essa situação começa a ser mudada: 12 novas (simpáticas) figurasjá começam a invadir o mercado dos quadrinhos (mais precisamente, as tiras) no Brasil, assentando um pouco mais os nossos costumes e cultura nacionais e abrindo novos pólos de trabalho aos artistas brasileiros, até então forçosamente marginalizados pela invasão das tiras alienígenas.

Esse novo campo - idealizado e desenvolvido pela Abril recebeu o nome de Projeto Tiras e tem sido espalhafatosamente abordado pela imprensa que reconhece, mais do que um novo mercado, um autêntico filão culturalpara a afirmação do nome do artista brasileiro. Prova disso foi a matéria publicada pela revista Visão, e abordando o Projeto Tiras.

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Projeto Tiras: a operação de sucesso!

Em setembro do ano passado, Ruy Perotti, diretor de criação do Centro de Criação e Produção das Publicações Infanto-Juvenis, formou uma equipe com o objetivo de oferecer uma alternativa aos autores de histórias em quadrinhos nacionais e seus personagens: o Projeto Tiras, com a finalidade de colocá-los em jornais diários e, no futuro, dependendo de seu sucesso, transformá-los em heróis de revistas em quadrinhos.

Segundo Wagner Augusto, editor do Projeto, “o próprio mercado não oferecia condições de trabalho para o autor nacional, uma raça em extinção. Mas agora, com o Projeto, ele terá condições de fazer, apenas, quadrinhos. E viver disso”. Essa falta de condições citada por Wagner também abrange o fato dos quadrinhos estrangeiros chegarem ao país por um preço muito baixo, em função de já ter auferido lucros no exterior. “Para se ter uma idéia”, completa Wagner, "basta lembrar que o Hagar, aquele viking violento que apanha da mulher, só nos Estados Unidos é publicado em 2.500 jornais".

Em novembro do ano passado, a equipe saiu a campo, esperançosa, com uma pesquisa para descobrir o potencial de interesse que o Projeto despertaria nos editores de jornais diários. O resultado foi animador e, em janeiro deste ano entrou, defmitivamente, em operação no mercado o Projeto Tiras. Hoje, os personagens estão em 17 jornais do país.

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Quem é quem no Projeto Tiras

Ruy Perotti Barbosa é o diretor de arte e criador do Projeto Tiras. O editor é Wagner Augusto; Irene Valéria Ribeiro Scheel é secretária de produção; Natanael Aleixo Soares é o letrista e paste-up; Sueli Aparecida Mazze é a revisora. Na parte comercial, Luis Carlos Corrêa é contato junto ao Depto. Comercial, do qual o gerente é Nivaldo Montingelli Jr.

Jornal da Abril - Publicação interna do Grupo Abril - Ano 6 - nº 130 - primeira quinzena de junho de 1979

sábado, 17 de novembro de 2018

Strego - Projeto Tiras - 1979

Strego foi criado pelo desenhista e animador Clóvis Vieira em 1979 para o Projeto Tiras da editora Abril.

Segundo o folheto promocional do Projeto:

"Strego - é um urso alegre e desastrado que, embora não domine toda a técnica da magia, costuma praticá-la assim mesmo, causando sempre enormes confusões. Ele possui três assistentes: um jaboti, um esquilo e um ursinho muito simpáticos.

As histórias não se prendem a temas regionalistas, nem a nenhuma epóca determinada. Na verdade, o autor procura aproveitar a cultura universal, criando um universo diferente e original. Assim, ao mesmo tempo em que surgirão bruxas, fadas e monstros nas histórias, Strego e seus amigos vão também viajar no tempo e no espaço, criando situações muito especiais e divertidas!".

"Clóvis - iniciou sua carreira de desenhista aos 17 anos como profissional de cinema de animação. Trabalhou para as mais importantes produtoras de desenhos animados de São Paulo, produzindo mais de uma dezena de filmes, alguns premiados no Brasil, Argentina e Estados Unidos.

Participou em 1975 do 11º Salão de Histórias em Quadrinhos e Cinema de Animação de Lucca, na Itália, representando o Brasil como animador do curta-metragem Amor Mor, de 1973, produzido pelo cartunista Zélio.

Dedica-se também a desenhos animados para publicidade, além de escrever e desenhar suas histórias em quadrinhos". Clóvis Vieira faleceu em 6/6/2019.

Strego chegou a ser publicado em 1987 no jornal Clik.

Em 1983/84, foram produzidos alguns curta-metragens de 20 segundos com piadinhas de Strego, mas que não tiveram continuidade por falta de patrocínio.

Clóvis Vieira notabilizou-se posteriomente por ter produzido Cassiopéia (1996), o primeiro longa-metragem em animação totalmente digital do Brasil e, em alguns aspectos, do mundo.
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Em 1979 Clóvis fez parte do projeto do que deveria ser o quarto longa-metragem animado brasileiro, junto com Luís Briquet e Walbercy Ribas Camargo. Um filme em 3 episódios de 23 minutos cada, do qual Clóvis participaria com as aventuras do morceguinho Pifft "que, uma madrugada, ao voltar para casa (a torre de uma igreja), se atrasa demais e, para eu espanto, descobre o nascer do sol, e decide conhecer o dia. Como todos os seres fora de seu ambiente, Pifft e seu companheiro Pofft fazem várias descobertas, passam muitos sustos e vivem boas aventuras". O filme jamais foi concluído.
Pifft no jornal Metrô News, 1986. 

Projeto inédito para um livro ilustrado de Pifft.

Clóvis Vieira em 1972 na revista Quebra Coquinho, a primeira publicação da lendária editora Minami & Cunha.

Clóvis na revista Recreio, editora Abril, 1972.

Cenas do curta-metragem Amor Mor (1973) de Zélio e Clóvis Vieira.

Clóvis Vieira na revista Klik, editora Ebal, 1976.



Agradecimentos ao editor e jornalista Wagner Augusto e ao desenhista Clóvis Vieira.

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Tuca - Projeto Tiras - 1979


Criado pelo desenhista Jorge Kato, para o Projeto Tiras da editora Abril, em 1979, "Tuca é um cachorrinho simpático que encara a vida de uma forma simples e singela. As vezes participa do mundo de seus donos, os seres humanos, encarando suas atitudes sob um ponto de vista diferente e engraçado, e vivendo histórias muito divertidas. Dessa maneira, as aventuras do Tuca conseguem mostrar sempre o lado positivo e o lado negativo da vida, sem que o personagem perca suas características originais de cachorro, o que lhe garante uma sensibilidade toda especial. E, através desse método, o humorista acaba fornecendo ao leitor um quadro original do mundo que o cerca, mostrando as situações absurdas do cotidiano".


Sobre Jorge Kato, o folheto promocional enviado na época aos potenciais clientes descrevia: "Kato nasceu em maio de 1936, na cidade de Bastos, no interior paulista. Veio à capital para fazer o curso de Belas-Artes. Como desenhista iniciou sua carreira como ilustrador de livros didáticos e infantis e desenhou capas para revistas. Desenhou também histórias em quadrinhos para a Argentina e para os Estúdios Disney nos Estados Unidos.

Foi instrutor da escolinha do Grupo Infanto-Juvenil da Editora Abril, criada para descobrir e formar novos desenhistas de histórias em quadrinhos. Dirigiu o Departamento de Arte de publicações de livros e atividades e atualmente é Diretor de Arte do setor de artes e ilustrações".

Jorge Kato em 1962 Historinhas Semanais, editora Abril.

Jorge Kato foi um dos pioneiros artista Disney no Brasil, lendo a Wikipédia ficamos sabendo: "Jorge Kato (Bastos, 1936 - São Paulo, 7 de novembro de 2011) foi o desenhista da primeira história em quadrinhos Disney brasileira, publicada em dezembro de 1959. O desenhista começou a trabalhar na Editora Abril em 1953, como letrista, passando em seguida a desenhar capas das revistas Disney publicadas pela editora.

Na década de 1960, Kato desenhou histórias e capas para diversos personagens Disney. A partir de 1962 passou a adaptar material oriundo dos EUA.

Na década de 1970, Kato foi editor das revistas Disney da Editora Abril e foi, também, professor da Escolinha Disney da Editora, tendo sido responsável pela formação de desenhistas como Euclides Miyaura e Eli Leon.

Kato faleceu no dia 7 de novembro de 2011, a causa da morte não foi divulgada. O desenhista vivia em São Paulo".

Revista Crás nº 2, editora Abril, 1974.

Tuca já havia aparecido no jornal Picolé nº 03 de dezembro de 1976 da própria Abril.


Agradecimentos ao editor e jornalista Wagner Augusto.

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Projeto Tiras - 1979

Em 1979, a editora Abril, por meio de alguns funcionários visionários e amantes dos quadrinhos, lançou um projeto de distribuição de tiras de jornal que deveria funcionar nos moldes dos syndicates norte-americanos, o Projeto Tiras. Era composto primeiramente por trabalhos de desenhistas e roteiristas ligados à própria editora, mas, num segundo momento, pretendia abrir o leque e fornecer tiras de outros autores.

Capitaneado por Ruy Perotti e Wagner Augusto a ação durou apenas alguns meses devido a vários problemas externos e internos, inclusive à não compreensão do produto por setores da própria editora.

Zé Pessimista por Izomar.

A seguir podemos ler a carta de apresentação do Projeto assinada por Victor Civita, fundador da Abril:

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"Caro Editor:

Finalmente, um passo muito importante vai ser dado agora para preencher uma das mais sentidas lacunas do panorama cultural e artístico brasileiro. Falo do PROJETO TIRAS, que visa à promoção e distribuição, a jornais selecionados como os mais representativos do mercado, de histórias em quadrinhos com personagens e autores exclusivamente nacionais.

Todos os envolvidos no PROJETO TIRAS serão certamente beneficiados com ele:
  • os autores nacionais, que finalmente terão oportunidade de divulgar seus trabalhos - hoje, reconhecidamente, do melhor nível internacional; 
  • os jornais, que receberão permanentemente, e a baixo custo, um material editorial de alta qualidade e inegável interesse para seus leitores;
  • e os leitores, que poderão encontrar material tipicamente brasileiro, com que se identificarão mais profundamente.

O PROJETO TIRAS abrange duas modalidades:
  1. Publicação das histórias em quadrinhos sob a forma de tiras diárias, no corpo do jornal.
  2. Publicação de suplementos infanto-juvenis semanais.

Anexo à presente, encontrará nosso “portfolio", com amostras dos autores participantes, previamente selecionados pela Abril, com sua tradição de muitos anos em qualidade editorial e experiência específica em histórias em quadrinhos.

Confio em sua adesão a este projeto que, por suas características pioneiras, visa à valorização do autor nacional e à divulgação dos temas e costumes brasileiros. E contribuirá para destacar ainda mais seu jornal, acrescentando entretenimento de alta qualidade às demais características já tradicionais.
A seu inteiro dispor para quaisquer esclarecimentos adicionais, aproveito o ensejo para transmitir-lhe meus melhores cumprimentos.
Cordialmente
Victor Civita"

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Sujismundo por Ruy Perotti.

A ação foi anunciada na revista semanal Visão, de Henry Maksoud, concorrente de Veja. Curiosamente o semanário de Victor Civita não publicou sequer uma linha noticiando o projeto. Leiam a matéria a seguir:

"Mercado nacional para brasileiros

Nossos desenhistas sempre vociferaram contra o monopólio das histórias em quadrinhos mantido pelos “syndicates”, mas não podiam concorrer com eles. Agora, chegou a hora.

Nunca nenhum editor de jornal ousou dizer que não há mercado para as tiras de histórias em quadrinhos no Brasil: mesmo sabendo que os leitores riem amarelo com as graças estrangeiras, há sempre uma seção de humor na imprensa diária. Mas muita gente insistia em dizer que não dava para publicar autores brasileiros. Até que Maurício de Sousa provou, individualmente, que a questão não era bem essa. Tratava-se de criar o que muita gente sabe fazer, mas, principalmente, de contar com um sistema de distribuição eficiente, o que ele encontrou na Empresa Folha da Manhã, cujo carro-chefe editorial é a Folha de S. Paulo. Faltava, entretanto, montar um projeto que permitisse a presença não de um, mas do maior número possível de autores no mercado.

É o que faz a editora Abril, que estudou e detalhou seu "Projeto Tiras" durante os últimos seis meses, e o está lançando agora - já com contratos de fornecimento de tiras para dez jornais do interior de São Paulo e um de Fortaleza.

A idéia, trabalhada há dois anos, é de Ruy Perotti, criador do Sujismundo. Mas trata-se também de uma velha ambição da Editora Abril, interessada em "encontrar novos Maurícios de Sousa", para ampliar sua presença no mercado das revistas em quadrinhos, que hoje domina com a linha Disney e a Turma da Mônica.

Florisvaldo por Igayara.

A empresa chegou mesmo a editar uma revista-laboratório, Crás, com essa finalidade, em 1974. "Mas não deu certo", diz Perotti, "porque as revistas em quadrinhos começam nas tiras de jornais. Esse é também o histórico do Maurício. É preciso criar o personagem, testá-lo no dia-a-dia do leitor, marcar sua presença, firmá-lo. Só depois disso se pode pensar em lhe dar autonomia numa revista em quadrinhos." Por duas razões: uma é que os títulos estrangeiros já vêm com todo o merchandising pronto (filmes de cinema e de TV, brinquedos etc), "sendo impossível aos autores nacionais concorrer em igualdade de condições"; outra é que não se pode desprezar a lógica interna do produto, isto é, o início de personagens e autores nas páginas de jornais até chegar à revista e aos outros desdobramentos.

De grão em grão

Embora aparentemente óbvias, essas constatações são o produto de longa relação com o gênero - caso tanto de Ruy Perotti, diretor de arte, quanto de Wagner Augusto, editor do "Projeto Tiras", que destacam a importância cultural do projeto: criação de uma línguagem nacional de quadrinhos (já que a distribuição é para todo o país), no desenho como no texto, desenvolvimento de uma estética independente da implantada pelos modelos estrangeiros.

A verdade é que, mesmo com as atividades ainda incipientes, alguns resultados nesse sentido já podem ser verificados. Wagner destaca, por exemplo, o caso do personagem Florisvaldo (do paulista Igayara), que já vem sofrendo transformações no desenho - mais solto e mais simples do que no começo e o de Giba (da dupla Farias e Paiva), um negrinho favelado que vai ganhando em ironia, malandragem e causticidade.

O projeto, agora uma operação tiras, conta com doze personagens autenticamente brasileiros - do cangaceiro Carrapicho (de Avalone) ao favelado Giba, do indiozinho Tibica (de Canini) a Sujismundo, que passam a frequentar páginas de diários e semanários do país, com  base na estrutura de distribuição de publicações da Editora Abril.

Giba por Farias e Paiva.

De acordo com Perotti, o plano é que, “em seis meses, esse sistema mude totalmente o panorama da história em quadrinhos na imprensa nacional”. Se tudo der certo - e parece que vai dar, pois a aceitação das tiras brasileiras tem sido de 100% -, pode-se contar até com a expansão internacional do projeto, com a implantação do syndicate Abril. As etapas a serem vencidas são: atingir cinquenta jornais até fim de março, na fase de teste de receptividade dos personagens; lançar suplementos semanais com os personagens mais fortes, a partir do segundo semestre; atingir duzentos jornais em dezembro, quando os autores deverão passar dos catorze iniciais a trinta. A partir de então passa-se à etapa editorial propriamente dita: lançamento dos personagens mais aceitos em revistas, sob a forma de uma "coleção nacional", que preparará autores e personagens para virarem títulos independentes, com periodicidade determinada, e, finalmente, para lançamento de produtos de atividade, tipo "destaque e brinque", de álbuns e de uma linha de merchandising.

O segredo do projeto está em uma distribuição eficiente e no preço baixo, que varia de 60 a 80 cruzeiros, no mesmo nível do material internacional, cujo custo vai de 3 a 5 dólares por unidade. Nessa fase, a empresa paga 40% do valor das tiras vendidas ao autor, custeando a produção, enquanto na fase de revistas o direito autoral será o usual: 5% sobre o valor da capa (para as tiras, autor é exclusivo da Abril; para as revistas, assina um contrato de preferência apenas). Por enquanto, jornais, autores e empresa parecem satisfeitos com os resultados. Maurício de Sousa, consolidado em sua posição, não deve temer a concorrência dos "novos Maurícios". Resta saber como reagirão as distribuidoras do material estrangeiro, já que os syndicates detêm ainda 90% do mercado brasileiro de histórias em quadrinhos. Serão eles, agora, a rir amarelo?
Visão, 5 de março de 1979"


Agradecimentos ao jornalista e editor Wagner Augusto pela cessão do material.