quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Oliveira, o trapalhão - Diário da Noite - 1942


Oliveira, o trapalhão, era o típico português de anedotas de salão, atrapalhado e confuso, e suas aventuras se passavam na cidade do Rio de Janeiro. Criado pelo famosíssimo cartunista Péricles (Péricles maranhão), o autor do não menos famoso Amigo da Onça, foi publicado em forma de tiras no Diário da Noite (RJ) entre 1942 e 1943. Aparentemente, as tiras serviam para alavancar as vendas da revista O Guri, onde o personagem aparecia em aventuras longas.


Segundo Ionaldo Cavalcanti, em seu livro O Mundo dos Quadrinhos (editora Símbolo - 1977): "OLIVEIRA, O TRAPALHÃO - Criação humorística de Péricles Maranhão, datada de 1943 (na verdade 1942), este personagem era publicado na revista O Guri, da Empresa Gráfica O Cruzeiro até 1946, quando Péricles o abandonaria depois de criar o famoso Amigo da Onça.


Oliveira, apesar de ser um bonachão bem carioca, acontecia nos lugares mais distantes, como na Arábia, vivendo como sultão".

Oliveira em O Guri.

Na Enciclopédia dos Quadrinhos (L&PM-2011), Goida e André Kleinert escreveram: 

"PÉRICLES - Brasil (1924-1961)

Péricles de Andrade Maranhão, o famoso criador de O amigo da onça, suicidou-se no último dia do ano de 1961. Escreveu cartas justificando o seu gesto, fechou todo o apartamento e asfixiou-se com gás de cozinha. Mesmo assim, não resistiu ao seu espírito de humor. Colocou na porta de entrada um aviso escrito à mão: "Não risquem fósforos". Originário de Recife, Péricles começou a desenhar na revista do Colégio Marista, onde estudava. Em 1942, no peito e na coragem, um rolo de desenhos e uma carta de apresentação do seu amigo e jornalista Anibal Fernandes (do Diário de Pernambuco), Péricles chegou ao Rio de Janeiro. Apresentou-se a Leão Gondim de Oliveira, diretor da revista O Cruzeiro (cujo poderio naquela época seria com­parável ao da Rede Globo nos dias de hoje) e se tomou um dos colaboradores mais moços daquela publicação. Começou trabalhando em quadrinhos num típico personagem carioca chamado Oliveira, o trapalhão. Oliveira era um português bigodudo, que tinha como companheiro de trapalhadas um negro com jeito e camisa listrada de malandro, Laurindo. Publicadas inicialmente pelo Diário da Noite, as histórias de Oliveira chegaram também a O Guri, revista infantojuvenil editada por O Cruzei­ro. 

Em 1943, já com um estilo bem desenvolvido, Péricles resolveu criar um personagem humorístico fixo para O Cruzeiro, cuja circulação semanal já era muito boa. A ideia partiu de uma anedota co­mum na época. "Dois caçadores conversavam num acampamento na floresta. - O que você faria se uma onça aparecesse na sua frente? - Ora, dava um tiro nela. - Mas se você não tivesse nenhuma arma de fogo? - Bem, então eu matava ela com meu facão. - E se você estivesse sem facão? - Apanhava um pedaço de pau. - E se não tivesse nenhum pedaço de pau? - Subiria na árvore mais próxima. - E se não tivesse nenhuma árvore? - Eu saía correndo. - E se você estivesse paralisado pelo medo? O outro, já irritado, retrucava. - Mas afinal, você é meu amigo ou amigo da onça?" 


Oliveira em O Guri, 1943.

Marcado pelo estilo dos humoristas argentinos mais famosos da época - principalmente Divito e Lino Palácio, Péricles criou o seu "amigo da onça". Um cara baixinho, cínico, safado, que vivia aprontando poucas e boas com a cara mais deslavada deste mundo. O amigo da onça tomou-se a primeira página que todos liam em O Cruzeiro. Ajudou a aumentar, em muito, a popularidade e a circulação daquele semanário. Ganhou inclusive algumas histórias em quadrinhos também, embora Péricles nunca aproveitasse tudo que a fama do personagem permitia. Ele nunca utilizou a sua criação em produtos comerciais e outras manobras de merchandising, que realmente ajudam a enriquecer muitos quadrinistas. 

Apesar de humorista de mão cheia, na vida particular era um tipo meio solitário e ensimesmado, principalmente depois que se desquitou da mulher e perdeu o con­vívio com o filho. Acabou suicidando-se em 31 de dezembro de 1961. A sua criação, porém, resistiu. Carlos Estevão, o segundo maior nome de humor gráfico da revista O Cruzeiro, assumiu o personagem, até morrer em julho de 1972. Aí, ou­tros desenhistas tentaram uma nova continuidade, mas os tempos e a própria revista O Cruzeiro já eram bem outros. Ficou mesmo como imortal O amigo da onça de Péricles".


Oliveira em A Cigarra, março, 1945.

* Agradecimentos ao amigo Quim Thrussel pela dica da tira.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Super-Honda - Revista Honda Clube - 1983


Pepê, magro, fraco e franzino, é a identidade secreta do super-herói Super-Honda. Apaixonado pela bela Margareth, que pouco lhe dá bola, ele resolve problemas e mistérios montado em sua possante motocicleta. 

Criado pelo quadrinhista Sebastião Seabra em 1983 para a revista Honda Clube da editora R. Leme, era publicado em aventuras coloridas de duas páginas. 

Além do autor, as histórias tiveram a colaboração de Josmar Fevereiro e Franco de Rosa nos desenhos e Paulo Paiva nos roteiros. Antenados com os assuntos de sua época os autores colocavam várias referências artísticas e musicais em seus quadrinhos.

Sobre a série, Seabra nos conta: "Foi convite dum estúdio... Não lembro o nome. O tal de "Dinho" (Ronaldo Leme), dos Mutantes, era um dos donos, junto com o irmão, aquele cara que fala na Globo no programa de esportes... Corrida... Como é mesmo o nome dele? Trabalha junto do Galvão Bueno... (Reginaldo Leme).

Enfim, eles queriam duas páginas coloridas dum super-herói...

Como a publicação era sobre motos e era uma revista da Honda (muita grana) - pagavam 800 paus por lauda de texto na época. Uma fortuna até nos dias de hoje!

Bom, como era pra Honda, foi automático eu criar o "Super-Honda"...

Fiz o texto (com humor, como de costume), foi tudo aprovado, mas na época não me senti seguro para arte-finalizar... Minha arte-final era muito ruim. Daí convidei meu amigo, o talentoso Josmar Fevereiro.

Nos reunimos num final de semana num estúdio que ele mantinha em Pinheiros e ela arte-finalizou e de quebra coloriu pra mim... Foi publicado, junto com algumas ilustrações que fiz para a revista, que era bimestral.

No número seguinte eu tava mal... Morrendo. Fui parar no Hospital das Clínicas. Passei por cirurgia e pedi pro pessoal fazer as duas páginas pra mim. Creio que o Franco esboçou, mas não lembro se foi ele ou o Josmar quem arte-finalizou e coloriu... Poxa, não lembro de mais nada...

No terceiro número da revista eu já havia casado e voltado pra minha cidade... Fiz as duas páginas sozinho e levei em mãos. Só que chegando lá, soube que a crise afetou o orçamento da revista e a edição seria em preto e branco! E, numa conversa truncada, não entendi direito se minhas duas páginas iriam ser publicadas ou pagas, essas coisas que passamos quando somos garotos. Deixei os originais lá, dei de ombros e voltei pra casa.

Fim da fracassada aventura do "Super-Honda". Como tudo, nesse país!".

Sobre os autores, a Enciclopédia dos Quadrinhos (Goida / André Kleinert - L&PM - 2011) nos esclarece:

SEABRA, S. R. - Brasil (1959) 
Com apenas dezesseis anos, Seabra já desenhava em Notícias Populares, de São Paulo, as tiras diárias de Capitão Caatinga (roteiros de Franco de Rosa). Trabalhou para a EBAL (Klik, revista de humor e Zorro Capa e Espada) até firmar-se na Grafipar. No final da década de 70, colaborou em revistas de terror, aventuras e policiais, sempre com ligação ao sexo. Nessa época, utilizou, em muitas histórias, o curioso pseudônimo de Sebastião Zéfiro. Quando a Grafipar encerrou suas atividades, passou para a Press Editorial e a D-Arte (ambas de São Paulo). Nessa última, co­laborou para Mestres do Terror e Calafrio. Para a Nova Sampa, criou um álbum completo, Não nego fogo (coleção "Graphic Sex"), uma narrativa de­tetivesca, povoada de mulheres bonitas e eróticas. Teve alguns trabalhos publicados em Mundo do Terror (Maciota), Mephisto e Bokaloka. Em 2003, pela Opera Graphica, saiu o seu álbum de histórias curtas, Na trilha do prazer. Na série "Literatura Brasileira em Quadrinhos", já fez O homem que sabia javanês (2005), de Lima Barreto; Brás, Be­xiga e Barra Funda (2006), de Alcântara Machado; e Memórias póstumas de Brás Cubas (2008), de Machado de Assis, todos publicados pela Escala Educacional. 

JOSMAR - Brasil (1950) 
Josmar Fevereiro começou sua carreira de quadri­nista com um ótimo mestre. Ele foi assistente do já desaparecido Nico Rosso e trabalhou igualmente no estúdio de criação Octopus. De sólida formação artística - Josmar é escultor -, passou a assinar seus trabalhos na época do boom dos quadrinhos nacionais (1979/1982). Fez cen­tenas de páginas de terror e sexo para a Grafipar e para a Vecchi (na revista Pesadelo). Também colaborou com a Inter Quadrinhos (1984). No início da década de 90, Josmar esteve em Portugal, onde criou para o Jornal da Casa do Brasil de Lisboa a tira de Juca Brasuca, personagem que representava a figura do migrante brasileiro em terras lusitanas. Ainda em Portugal, foi responsá­vel pelas histórias de Xana - uma mulher activa, para uma publicação feminina. Entre 1999 e 2001, já de volta ao Brasil, fez tiras para a revista Vip (Abril). Mais recentemente, vem colaborando com a editora Escala/Larousse na coleção "Literatura Brasileira em Quadrinhos", sendo que escreveu e ilustrou as adaptações de O homem que sabia javanês (Lima Barreto), A cartomante (Machado de Assis), Miss Edith e seu tio (Lima Barreto) e Brás, bexiga e barra funda (Antônio Alcântara Machado). 

Sobre Franco de Rosa clique aqui.


terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Urubulino e Gugu - O Jornal - 1969


Tira de aventuras policiais com traço infanto-juvenil, Urubulino e Gugu, criados pelo desenhisto Olney Duarte, contava as histórias de um urubu e um porco, sempre metidos em desvendar crimes.

No traço de Olney podemos notar influências de Joselito, desenhista brasileiro especializados em animais antropomorfizados, Paul Murry, em Mickey, e até mesmo do cartunista Carlos Estevão, contemporâneo do autor em O Jornal.

Segundo o site Quadrinhos Brazukas, de Rômulo Rangel, a tira foi produzida entre 1969 e 1972.

A artista também criou a tira Zeca e Zico, além de produzir charges e ilustrações para esse mesmo veículo.

Ilustração de Olney para a crônica policial de O Jornal, 1970.

Olney, jornalista, carioca, viveu no bairro de Laranjeiras. Começou muito jovem vencendo um concurso de desenhos da Caixa Econômica Federal. Faleceu em 25 de junho de 2018.
Urubulino chegou a ter uma revista própria em 1968, em formato cheque, pela editora Fase.

Urubulino na revista Sesinho, 1960.
 
 



sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Gilda - Jornal do Brasil - 1977

Gilda no Última Hora em 1979.

Uma das integrantes da Turma do Lambe-Lambe, a vaca Gilda, criação de Daniel Azulay, teve uma tira própria publicada no Jornal do Brasil em 1977 e posteriormente no Última Hora (RJ) em 1979. A tira foi também distribuída pela ECAB (Editora Carneiro Bastos) para veículos de todo o país nesse período.

Gilda era uma garota independente que desempenhava as mais variadas profissões, mas também tinha seus dilemas existenciais e lidava com uma paixão não correspondida, por parte dela, com o elefante Bufunfa.
 
 
Gilda em 1977 no Jornal do Brasil.

Daniel Azulay, atualmente, dedica-se à arte educação, com uma rede de escolas de desenho. 

Por meio de seu site ficamos sabendo: "Daniel Azulay por definição, é desenhista e educador. Mas também é pintor, músico, escritor, ilustrador de livros infantis e bacharel em Direito por formação. Acima de tudo, um artista completando quarenta anos dedicados a desenvolver a arte e educação para crianças e jovens.

De todas suas criações, sem dúvida a que faz mais sucesso entre a criançada é a Turma do Lambe-Lambe. Criada em 1975 - ficou no ar durante quinze anos consecutivos em duas redes de televisão, Bandeirantes e Educativa.

Em 1996 retornou à Band-Rio por mais quatro anos apresentando seu programa de TV “Oficina de Desenho Daniel Azulay”. Em 2003, 2004 e 2005 apresentou a “Turma do Lambe-Lambe” na TV Rá-Tim-Bum da TVCultura e “Azuela do Azulay” no Canal Futura.

Durante mais de uma década, Daniel Azulay influenciou a geração dos Anos 80 como pioneiro, ensinando muita gente pela TV a fazer brinquedos de sucata, esculturas de bexiga “Bolamania”, a brincar e desenhar usando a imaginação com jogos de raciocínio".

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Os Lunáticos - Revista Garotas e Piadas - 1971


Ainda sob forte impacto do Projeto Apolo, o desenhista Liesenfeld criou para a revista Garotas e Piadas, da editora Edrel, a aventura Os Lunáticos

Misturando sátira e erotismo, como era comum nas publicações dessa editora, com a conquista espacial, a aventura apresenta o traço psicodélico próprio do artista e foi uma das raras HQs coloridas impressas pela Edrel.

Sobre o autor, Fernando Ikoma escreveu: "Oriundo do Rio Grande da Sul, é um dos poucos desenhistas "pop" das estórias em quadrinhos. Seus trabalhos são maís artísticos e menos comerciais mas consegue agradar aos que gostam desse estilo".

Segundo o Guia dos Quadrinhos"Liesenfeld (Marco Araújo Liesenfeld, 29 de abril de 1946) é um nome conhecido entre os verdadeiros fãs de HQs, pois ele tem trabalhos publicados desde 1965. Natural de Poro Alegre (RS), foi um dos destaques da editora Edrel. Trabalhava em publicidade na época em que colaborou na revista “Estórias Adultas”. Adorador do nu feminino e também de temas sobre automobilismo, tem um traço inconfundível".

Liesenfeld colaborou também nas revistas da editora Grafipar no final dos anos 1970.

Liesenfeld no livro A Técnica Universal das Histórias em Quadrinhos, de Fernando Ikoma, editora Edrel.


Premiado no 1º Salão de Humor e Quadrinhos do Mackenzie, em 1973.